quarta-feira, 24 de março de 2010

Tornar inteligível o professor de Sociologia

O senhor-professor-licenciado-mestre-doutor-por-extenso-em-sociologia é um ser raríssimo e de uma complexidade tal, que se torna necessário, para o bem-estar mental dos alunos que voluntariosamente se propõem a atender às suas aulas, explicar a criatura, as suas acções e os seus pensamentos (estes muito superficialmente, porque creio que, se conseguíssemos entrar profundamente na cabecinha do senhor, iríamos encontrar coisas bastante desagradáveis).

Para tal, é importante tornar o sujeito em objecto de estudo científico na perspectiva, não sociológica (porque não é nenhum fenómeno social e é a única pessoa do seu género que conheço), mas sim, psicológica e mobilizar as teorias, assim como, os métodos, as técnicas e os instrumentos para a análise do dito objecto.

O seu estado psíquico-emocional, projecta-se na figura centrada, calma, afastada, que não demonstra pingo de emoção, de empatia com os demais. A escolha da cor e do género de roupa é uma tentativa de afirmação do seu afastamento emocional: blazer preto, t-shirt preta, calças de ganga azul-escuro, sapatos pretos, óculos de hastes pretas. Vestuário que usa, impreterivelmente, todos os dias do ano e mais um se for bissexto. “O preto confere-me opacidade, nada entra nada sai!” (ao nível sentimental, espero…) – palavras do senhor sociólogo.

Porém, este carácter focado e reflexivo esconde preocupantes sintomas psicóticos e egomaníacos. Na sua recusa das convenções sociais e em tornar a ocupação de sociólogo em profissão, na recusa da sociedade patriarcal em que vivemos, com casamentos, filhos e virgindade antes do casamento, demonstra uma necessidade excessiva em afirmar-se magnificente na sua compreensão da sociedade e superior a questões mundanas.

Segundo o próprio, relaciona-se com as mais altas esferas da sociedade e do poder: é tu cá tu lá com o rei de Marrocos e dá-se ao luxo de recusar convites para almoço do Belmiro de Azevedo só porque não pode descurar o trabalho magnânimo de professor!

É ainda dotado de um poder sobrenatural que transcende a compreensão dos meros mortais e que lhe confere a capacidade extraordinária, não de desaparecer e aparecer noutro lugar (que na gíria Harry Potteriana seria desmaterializar-se), mas sim, de tornar uma simples aula de sociologia de duas horas numa complexa sessão de suplício com os mais diversos instrumentos e mecanismos mentais de tortura, que na percepção dos alunos em sofrimento lhes parece uma eternidade!


6 comentários:

  1. como consegues de uma maneira simples utilizar os conceitos da aula, neste texto tão descritivo....
    Muito interessante :)

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  2. Lara se o homem visse isto estavas passada praticamente fizeste uma reflexão da reflexão, algo que é absolutamente central na sociologia dos sociólogos...

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  3. Lara... tenho-te a dizer que és uma versão muito mais refrescante e apelativa dos sociólogos!! grande texto, acho que até vou fazer uma ficha de leitura para depois entregar ao professor!!! XD

    ...eu resumia a coisa somente desta maneira: é uma criatura muito interessante, com uma porrada de traumas em cima daquela cabecinha "semi-careca" (por opção também para realçar a "opacidade")!!

    ...mais uma vez, tás lá miúda!! um dia editamos os teus textos e ainda ganhamos dinheiro com isso =P

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  4. smile: Obrigada! Ele repete tantas vezes estas expressões que acabam por ficar no ouvido...

    Buffy: LOOOL
    Dava-me imenso jeito! O exame vai ser duro...=P
    Acho que se o professor visse este texto em vez de ficar com o ego ofendido iria adorar só porque é "superior"...
    "absolutamente central" LOL ele está sempre a dizer isso!

    ...pois...: Obrigada!
    Quanto aos traumas tens toda a razão! É uma versão resumida mas correctíssima da sua pessoa!
    LOOOOL Ainda não tinha pensado nisso da careca!
    Acho que não ganhavam muito com estes textos...=P

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  5. uma descriçao quase sociológica (quase porque apesar de ter termos de sociologia..percebe-se o k está escrito) de um professor.....não é fácil...mas está muito bem feito!!

    tortura foi a palavra que achei mais adequada para descrever aquelas aulas...mas se nao formos para a tortura temos falta!!!por isso mais vale sofrermos pa ver se a tortura nao se prolonga por mais anos..hehe!!

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  6. Nini: Obrigada!
    Infelizmente é verdade isso das faltas... Mais um ano disto e tenho a certeza que faria parte do fenómeno social suicídio...!

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