O senhor-professor-licenciado-mestre-doutor-por-extenso-em-sociologia é um ser raríssimo e de uma complexidade tal, que se torna necessário, para o bem-estar mental dos alunos que voluntariosamente se propõem a atender às suas aulas, explicar a criatura, as suas acções e os seus pensamentos (estes muito superficialmente, porque creio que, se conseguíssemos entrar profundamente na cabecinha do senhor, iríamos encontrar coisas bastante desagradáveis).
Para tal, é importante tornar o sujeito em objecto de estudo científico na perspectiva, não sociológica (porque não é nenhum fenómeno social e é a única pessoa do seu género que conheço), mas sim, psicológica e mobilizar as teorias, assim como, os métodos, as técnicas e os instrumentos para a análise do dito objecto.
O seu estado psíquico-emocional, projecta-se na figura centrada, calma, afastada, que não demonstra pingo de emoção, de empatia com os demais. A escolha da cor e do género de roupa é uma tentativa de afirmação do seu afastamento emocional: blazer preto, t-shirt preta, calças de ganga azul-escuro, sapatos pretos, óculos de hastes pretas. Vestuário que usa, impreterivelmente, todos os dias do ano e mais um se for bissexto. “O preto confere-me opacidade, nada entra nada sai!” (ao nível sentimental, espero…) – palavras do senhor sociólogo.
Porém, este carácter focado e reflexivo esconde preocupantes sintomas psicóticos e egomaníacos. Na sua recusa das convenções sociais e em tornar a ocupação de sociólogo em profissão, na recusa da sociedade patriarcal em que vivemos, com casamentos, filhos e virgindade antes do casamento, demonstra uma necessidade excessiva em afirmar-se magnificente na sua compreensão da sociedade e superior a questões mundanas.
Segundo o próprio, relaciona-se com as mais altas esferas da sociedade e do poder: é tu cá tu lá com o rei de Marrocos e dá-se ao luxo de recusar convites para almoço do Belmiro de Azevedo só porque não pode descurar o trabalho magnânimo de professor!
É ainda dotado de um poder sobrenatural que transcende a compreensão dos meros mortais e que lhe confere a capacidade extraordinária, não de desaparecer e aparecer noutro lugar (que na gíria Harry Potteriana seria desmaterializar-se), mas sim, de tornar uma simples aula de sociologia de duas horas numa complexa sessão de suplício com os mais diversos instrumentos e mecanismos mentais de tortura, que na percepção dos alunos em sofrimento lhes parece uma eternidade!
como consegues de uma maneira simples utilizar os conceitos da aula, neste texto tão descritivo....
ResponderEliminarMuito interessante :)
Lara se o homem visse isto estavas passada praticamente fizeste uma reflexão da reflexão, algo que é absolutamente central na sociologia dos sociólogos...
ResponderEliminarLara... tenho-te a dizer que és uma versão muito mais refrescante e apelativa dos sociólogos!! grande texto, acho que até vou fazer uma ficha de leitura para depois entregar ao professor!!! XD
ResponderEliminar...eu resumia a coisa somente desta maneira: é uma criatura muito interessante, com uma porrada de traumas em cima daquela cabecinha "semi-careca" (por opção também para realçar a "opacidade")!!
...mais uma vez, tás lá miúda!! um dia editamos os teus textos e ainda ganhamos dinheiro com isso =P
smile: Obrigada! Ele repete tantas vezes estas expressões que acabam por ficar no ouvido...
ResponderEliminarBuffy: LOOOL
Dava-me imenso jeito! O exame vai ser duro...=P
Acho que se o professor visse este texto em vez de ficar com o ego ofendido iria adorar só porque é "superior"...
"absolutamente central" LOL ele está sempre a dizer isso!
...pois...: Obrigada!
Quanto aos traumas tens toda a razão! É uma versão resumida mas correctíssima da sua pessoa!
LOOOOL Ainda não tinha pensado nisso da careca!
Acho que não ganhavam muito com estes textos...=P
uma descriçao quase sociológica (quase porque apesar de ter termos de sociologia..percebe-se o k está escrito) de um professor.....não é fácil...mas está muito bem feito!!
ResponderEliminartortura foi a palavra que achei mais adequada para descrever aquelas aulas...mas se nao formos para a tortura temos falta!!!por isso mais vale sofrermos pa ver se a tortura nao se prolonga por mais anos..hehe!!
Nini: Obrigada!
ResponderEliminarInfelizmente é verdade isso das faltas... Mais um ano disto e tenho a certeza que faria parte do fenómeno social suicídio...!